domingo, 7 de março de 2010

FIC...Kiss Yesterday Goodbye CAP 9



Capítulo IX


Eram duas horas e quinze quando Prih chegou ao escritório na segunda-feira. Suzanne, logo que ela entrou, levantou a cabeça e olhou acintosamente para o relógio.
— O chefe quer vê-la — disse.
— Sabe qual é o problema?
— Não. Mas ele me pediu que lhe desse o recado assim que che­gasse.
— É. Parece coisa de Nick. Onde ele está? No laboratório?
— Não. No escritório. — Suzanne apontou a porta.
— Você deve estar enganada. Duvido que ele saiba onde é o escritório.
Suzanne se levantou e, sem maiores explicações, saiu em direção à sala de descanso.
"Ela só saiu daqui porque a sala é à prova de som", Prih pensou. "Pois, do contrário, ficaria aqui para não perder uma só palavra da conversa."
Prih bateu à porta da sala de Nick. Estava esperando por uma resposta quando Steve apareceu.
— Está chegando agora, Prih? — perguntou ele, aproximando-se.
— Sim, por quê? Estive bancando a babá de Molly todo o fim de semana. Então decidi descansar um pouco hoje pela manhã. Pa­rece até que é crime ficar algum tempo ausente do serviço.
— Talvez não, mas para Nick é quase isso!
— Se eu soubesse, teria tirado o dia inteiro para descansar — brincou.
Steve olhou para sua mão.
— Você não está usando o anel de noivado, Prih. . .
— Não. Decidimos terminar. Você já viu um noivado tão curto assim?
— Fico feliz com o rompimento. Na verdade, eu não conseguia cumprimentá-la pelo noivo que arrumou.
— Eu percebi!
— Bem, ele não era mesmo feito para você. Posso acompanhá-la à recepção de Ano Novo na casa de Alison?
— Claro Steve! Vou gostar muito. — Prih sorriu. Ele realmente era um bom rapaz.
Steve abriu a porta e ela entrou antes dele. Nick estava sentado atrás da mesa, com os pés em cima de um dos cantos. Com um copo de café nas mãos, olhava pela janela.
— Fique à vontade, Moreninha. Tire o casaco. Aliás, não foi por falta de tempo que ainda não fez isso.
— Bem, me disseram que era urgente.
— Na verdade, não era mais tão urgente. Já esperei por você durante a manhã toda, mesmo. . .
— Foi você quem me permitiu folgar esta manhã, Nick. E, se perdi alguma coisa importante, você bem que poderia dizer o que é não?
— Só lhe dei esta manhã porque mamãe insistiu. . . Disse que você precisava repousar para não adoecer.
— Ela é muito gentil em se preocupar comigo, não?
— Não sei. Você não me parece nem um pouco doente.
Prih sorriu.
— Ainda bem que Margaret percebeu. Ou você está me acusando de ter inventado um mal-estar para fugir ao trabalho?
— Não, você não faria isso. Apenas se sentiu triste por causa do rompimento com Brian e quis chorar na cama a manhã inteira.
— Margaret já lhe contou que ele foi embora?
— Não foi preciso. Tenho meus métodos de pesquisa.
— Vejam só! Esta nevando outra vez... — Steve os interrom­peu. E tirou um floco de neve do chapéu de Prih. — Vou voltar para o Arizona, mesmo!
Prih ainda não tivera coragem de tirar o casaco e o chapéu. Após o comentário de Steve. Nick falou:
— Sim, está nevando. Mas lá fora. Agora vamos Moreninha, tire logo essa roupa para começarmos o trabalho.
Ela suspirou e se perguntou se Margaret teria contado a Nick sobre seus cabelos. Qual seria a reação dele diante da nova Priscila? Será que ele iria gostar? Ou ficaria furioso ao perceber que ela fi­zera aquilo justamente para contrariá-lo? Vagarosamente, colocou a bolsa numa cadeira e, num ímpeto de coragem, arrancou a capa e o chapéu.
Steve, que estava atrás dela, não pôde evitar um lamento ao ver pequenos cachos castanhos no lugar daqueles lindos cabelos.
Nick mal a olhou.
— O que eu queria falar com você, Moreninha, é que Steve vai ajudá-la a preparar aquela pesquisa sobre a qual conversamos no final de semana. Ele poderá ser muito útil quando você for fazer a análise financeira. Sugiro que aceite a ajuda que ele. Voluntariamente, está oferecendo. Preciso dessa pesquisa concluída até quinta-feira à tarde.
— Até quinta-feira? Como, se ainda vamos ter um feriado nesta semana? Você está louco, Nick?
— Negócios não têm feriados, Moreninha. E, se você gasta cada minuto tentando achar uma falha em meu trabalho, pode perder muito menos tempo trabalhando em algo que é de seu próprio inte­resse.
— Mas você nunca perdeu um fim de semana trabalhando!
— Como você pode saber?
— Porque vive enfiado naquela cabana o tempo todo. Ontem à noite, por exemplo. . .
— Ah, então você percebeu que eu não estava em casa? E como pode ter certeza de que eu tinha ido para a cabana? Será que não poderia estar em outro lugar?
— Suponho que isso significa que você estava no apartamento de Suzanne...
— Não necessariamente. Pode perguntar a Suzanne, se quiser.
Prih riu.
— Você acha que sou louca? Aquela melosa é capaz de derrubar um pote de mel na minha cabeça e chamar as formigas...
— Bem, se é assim, então vai ter de acreditar nas minhas pala­vras: estive aqui, neste mesmo lugar, a noite toda.
Só então Prih o olhou de frente e pôde observar que seus olhos estavam vermelhos e sua expressão, cansada.
"Deve ser verdade", pensou. Nick se levantou e deu a conversa por encerrada.
— Bem, Moreninha, espero a pesquisa até quinta-feira à tarde, certo?
— Acho que não vai dar tempo. . .
— Se não der, vou deduzir que você não está tão interessada como diz nesse trabalho. Você tem três dias e meio, Moreninha.
Prih abriu a boca para protestar, mas se calou. Não seria bom para ela argumentar. Ele é quem estava dando as cartas.
Nick abriu a porta, esperou Prih e Steve saírem.
— Se precisarem de mim, estarei no laboratório — falou. E, an­tes de se afastar, dirigiu-se a Prih. — Gostei do seu cabelo assim, Moreninha. Sempre quis saber como eles ficariam curtos e enrolados.
Os olhos de Prih fuzilaram de raiva. Procurou alguma coisa para lhe atirar, mas não encontrou, e só pôde resmungar um palavrão.
Mesmo assim, bem baixinho para que Steve não ouvisse. Ao vol­tar-se, deparou com Suzanne, que tinha assistido à cena e estava com uma das mãos sobre a boca, como que retendo uma gargalhada.
Isso a irritou ainda mais. Mas pegou suas coisas e foi para sua sala, onde entrou, batendo nos móveis.
Steve a havia acompanhado e sentou-se na mesa, à sua frente, sem dizer qualquer palavra.
— Bem, o que você quer? — perguntou ela, irritada.
— Pensei que você quisesse começar a pesquisa já. . . Mas acho que isso pode esperar! — E saiu, deixando-a sozinha.
Prih encostou-se à cadeira e começou a imaginar o que faria com Nick se ela fosse membro do tribunal da Inquisição Espanhola, e ele, um herege. Sorriu vingativa ao pensar nos castigos a que o submeteria.
Mas não poderia continuar sonhando se quisesse entregar a tempo a pesquisa que Nick pedira. Pegou um bloco de anotações e come­çou a formular sua idéia.
Estava concentrada em seu trabalho, quando um barulho seme­lhante a uma explosão fez o prédio estremecer. Imediatamente ela percebeu que a agitação normal da fábrica aumentava e, antes que tivesse tido tempo de se levantar, Suzanne abriu a porta.
— Foi um acidente. Steve precisa de você. Ele está na parte de trás do edifício.
Prih saiu correndo na direção que a moça tinha indicado. Se Steve a estava chamando, provavelmente havia acontecido alguma coisa no laboratório de Nick.
Ao se encontrar com Steve, ele a puxou pela mão e desceram apressados um corredor que dava acesso à saída dos fornos e ao la­boratório de Nick. O coração de Prih quase parou. Não havia dúvidas. Nick estava ferido. Ou morto, talvez.
Tomada de desespero, ela gritou a um vigia que chamasse um médico, uma ambulância, qualquer coisa. E continuou a correr junto com Steve, que não tinha parado nem para explicar o que havia acontecido.
Mas, ao passarem pela frente da porta do laboratório de Nick, ao invés de abrir e entrar, Steve continuou a correr. Foi quando ela viu, logo à frente, o que tinha ocorrido. Um carrinho de carga havia descido a rampa. Seu peso era tanto que ele arrastou tudo o que encontrou pela frente e foi chocar-se contra uma parede, obstruindo a passagem e pressionando o homem que o conduzia.
Enquanto Steve e outro homem tentavam afastar os ferros que prendiam o empregado à parede, Prih constatou que toda aquela área estava prestes a ruir e notou que os outros funcionários amon­toavam-se excitados para ver o que se passava.
Decidida, afastou todos do local, enquanto rezava para que a am­bulância e a polícia chegassem logo. Nisso, lembrou-se de Nick. Onde estaria ele àquela hora? Na Universidade, brincando com seus tubos de ensaio, quando era tão necessário ali?
Sentiu-se duplamente revoltada. Primeiro por ter se preocupado tanto, pensando que era ele quem estava em perigo. Segundo, porque seus funcionários confiavam tanto nele e ele não estava lá numa hora como aquela.
Encostou-se à porta do laboratório e ficou observando o duro trabalho que aqueles homens estavam executando. Sentiu-se depri­mida. Por fim, abriu a porta do laboratório e entrou.
Era um pequeno aposento, muito bem equipado. Diferente de qualquer laboratório que se costuma ver. Nem mesmo químicos que se dedicavam à profissão em tempo integral possuíam aparelhos tão sofisticados. Bem, também não era para menos. A pobreza em que Nick tinha vivido quando criança podia ser compensada, agora que ele dispunha de todo o dinheiro dos Stanford.
Ressentida, Prih saiu e fechou a porta com cuidado. Voltou para sua sala.
Mais tarde, Steve a procurou.
— Obrigado por ter cuidado dos empregados. O pobre homem estava numa situação ruim demais para esperar muito tempo por socorro.
— E ele, como está?
— Nós o levamos logo para o hospital. Ele já está se recuperando, graças a Deus.
— E quanto ao prédio? Há perigo de desabamento?
Steve balançou a cabeça.
— Ainda não sabemos. Os engenheiros vão ver a melhor maneira de remover o transportador sem afetar a estrutura do prédio. Até lá, temos que informar Nick dos estragos.
— Bem, essa notícia é um alívio. E Nick, onde estava na hora do acidente?
— Nick? Ele foi à cabana ver se Alison e AJ a deixaram bem fechada. E, antes que você ponha a culpa nele, lembre-se de que eu sou seu assistente e sou pago justamente para substituí-lo quando ele não está. Isso faz parte do meu trabalho.
— Ele foi à cabana...
— Prih, ele não poderia saber que o homem soltaria um carrinho carregado naquela rampa. Foi uma falha humana. Seja razoável.
— Me deixa doente ver que Nick fica aqui apenas umas três horas por semana. Mesmo assim, todos defendem e elogiam a forma como ele conduz a empresa. Mas, como pude ver, ele não está con­duzindo nada!
— Prih...
Ela pegou seu casaco e se despediu. Parou ao lado de Suzanne e comunicou:
— Estou indo embora. Hoje não volto mais!
— Vai para casa se despedir? — perguntou Suzanne, com um sorriso nos lábios e muita maldade nos olhos.
— E do que iria me despedir?
— Que mais você iria fazer lá? Foi difícil saber que Nick com­prou aquela casa onde você passou sua infância, não? Mas foi bem feito para você, querida! Imagine que quando voltar a Twin Rivers eu estarei morando na casa que você pensava que herdaria. Na es­cola eu não era digna nem de limpar os seus sapatos e agora as coisas vão se inverter. Isso é para você aprender que quem fica fora por cinco anos não pode esperar que as coisas continuem como antes. . .
Prih ficou petrificada com a provocação aberta da secretária, mas resolveu que não iria lhe responder. Poderia facilmente desco­brir se Nick era mesmo o novo dono da casa. Bastava perguntar a Margaret.
Mas, bem no íntimo, tinha quase certeza de que Suzanne estava falando a verdade. Nick tinha mesmo comprado a casa, da mesma forma como conseguira o controle da empresa e da Fundação Stanford. O vento cortante sacudia os galhos das árvores quando Prih atravessou o pátio para pegar o carro. Havia nevado muito e aquele vento frio estava transformando a neve que se acumulara no chão em gelo. Ela sentia a pele do rosto se congelar também, e até suas mãos doíam, embora estivessem com luvas.
Felizmente, ao chegar ao carro, Prih constatou que ele não es­tava coberto pelo gelo. Estacionara embaixo de uma cobertura, que o tinha protegido da neve. Aliviada, prendeu as correntes contra gelo nas rodas, e alegrou-se por possuir um carro moderno, que, com aquele equipamento, lhe permitia andar sem derrapar num chão liso como esse que enfrentaria.
As ruas estavam apinhadas de gente. Era a hora da saída do tra­balho e todos procuravam fazer as compras de supermercado, antes que a neve e o gelo os impedisse. Mas Prih não estava com tempo para se ocupar dos problemas daquelas pessoas.
Abriu caminho no trânsito intenso e tomou a direção oeste. Ia pela estrada que deixava Twin Rivers, em direção a Oak Grow Park. Ia para a cabana de Nick. Queria encontrá-lo sozinho, sem Margaret ou Richard por perto. Então poderia dizer tudo o que ele preci­sava ouvir.
Enquanto dirigia, Prih ia ensaiando tudo o que queria falar. De repente, a corrente da roda se soltou. Ela estava bem em cima de uma ponte estreita e o carro derrapou. Com muita habilidade e sorte, conseguiu evitar cair na água. Mas precisou parar no acostamento. Desceu para dar uma olhada nas correntes. De fato, o estado de­las estava lamentável. Há muito não as usava e por isso se romperam tão facilmente. O carro estava praticamente dentro de um buraco e o gelo acumulado dos lados não lhe permitiria um ponto de apoio para tração. Prih teve vontade de chorar. E, para aumentar seu de­sespero, parecia não haver viva alma nas proximidades daquela es­trada.
Lembrou-se então do treinamento que o pai lhe dera quando criança. Reuniu toda coragem de que ainda dispunha, tirou as luvas e saiu caminhando à beira da estrada, pegando pedaços grandes e bem sólidos de gelo. Colocou-os entre as rodas do carro e as bordas do buraco e, acelerando levemente, conseguiu sair após algumas tentativas.
Enfim, podia respirar um pouco mais aliviada e dizer um fervo­roso obrigada a seu anjo da guarda. Suas mãos estavam roxas de frio, com as pontas dos dedos cortadas pelo gelo. Mesmo assim, sa­bia que devia prosseguir. Durante todo o tempo em que estivera parada, nenhum carro havia passado pelo local. E ela se apavorava com o pensamento de ter de ficar o resto da noite naquela estrada. Reduziu a velocidade e prosseguiu no meio da tempestade que começava a cair. Mal podia enxergar dez metros à frente. Mas preci­sava manter-se atenta, pois, a qualquer momento, o cruzamento que a levaria à cabana de Nick poderia surgir à sua direita. Enquanto dirigia, pensava que, àquela hora, poderia estar junto com Rosemary, num cruzeiro pelo Caribe. Viu-se à beira de uma piscina, com seu biquíni amarelo, tomando uma água de coco gelada. Ou então pas­seando pelas lojas e comprando souvenires. Ou dançando com Brian num clube sofisticado...
Brian. Fazia só um dia que ele tinha ido embora. Rosemary ia ficar furiosa ao retornar e ficar sabendo que o genro ideal fora recusado. Afinal, ele tinha um futuro brilhante pela frente e, para Rosemary, nada era mais importante que o dinheiro. Prih a ouvia repetir isso desde os dezessete anos.
No início, quando fora para junto da mãe, tinha a intenção de ficar apenas alguns meses. Pensava que Rosemary a tivesse abando­nado por um grande amor. Até já a tinha perdoado. Mas descobriu que tudo o que a mãe fez foi por dinheiro. E, por ironia do destino, Richard só começou a enriquecer depois que a mulher o deixou.
Prih olhou para o marcador de distância e concluiu que devia estar bem próxima do cruzamento. Podia até ser que a estradinha de terra estivesse melhor que a de asfalto. O chão era mais áspero e certamente não estava ainda coberto de gelo. Além disso, à distância até a cabana era agora menor do que a que teria de percorrer se desistisse e voltasse à cidade. Deu um suspiro e prosseguiu.
Meia hora depois, Prih não tinha mais certeza alguma de onde estava. A neve continuava caindo e ela não conseguia enxergar quase nada à frente. O indicador de distância apontava mais 18 quilôme­tros. Se ela por azar já não tivesse passado o cruzamento, ele estava então muito próximo.
Prih respirava ofegante e suas mãos seguravam com tanta força o volante que seus dedos doíam. Finalmente pensou ver a entrada que deveria tomar. Mas seria realmente aquela? Tinha estado na­quela região quando criança, mas não se lembrava muito bem.
Decidiu-se e entrou no cruzamento. Rodou vários quilômetros sem passar por qualquer outro carro para se informar. Estava ficando cada vez mais nervosa, com aquela escuridão sufocante. Já pensava em parar e esperar dentro do carro até que amanhecesse quando viu as primeiras árvores do parque.
Com um suspiro de alívio, tomou a direção da pequena colina que ela lembrava haver bem no centro da reserva. Mas onde seria a cabana de Nick? Ela não tinha a menor idéia de sua localização. Só lhe restava percorrer a área que a luz de seu carro mostrasse o jipe de Nick parado em algum lugar.
Estava ainda pensando nisso quando o carro falhou e fez um cavalo-de-pau no gelo. A primeira reação foi pisar no freio, mas lembrou que isso travaria as rodas e ela perderia definitivamente o controle. Bem baixinho, pediu ajuda a todos os santos e esperou que o carro perdesse velocidade por si mesmo. Por fim, o carro parou contra uma pedra e Prih pôde relaxar.
Aparentemente, não havia acontecido nada de grave com o veículo. Nem mesmo a lataria ficara amassada. Mas por que falhara tão de repente? Ela se sentou ao volante e tentou dar a partida. O carro chegava a ligar, mas falhava em seguida.
Quando olhou para o marcador de combustível, Prih teve um choque. Estava vazio. Mas como? Tinha pensado em abastecer logo pela manhã, porém estivera tão preocupada que acabara se esque­cendo. E agora?
Pensou na possibilidade de voltar para a estrada principal e tentar conseguir ajuda, ou uma carona até a cidade. Mas eram muitos quilômetros para serem percorridos sob a neve. E se seguisse para dentro do parque e tentasse encontrar a cabana de Nick? Parecia a opção mais viável. Mas e se não a encontrasse? Sabia que a reserva mantinha alguns animais semi-selvagens. E ela poderia se perder no meio das árvores.
À beira do desespero, Prih sentou-se no banco do carro. Nem frio sentia mais. Seu corpo estava praticamente adormecido pelo medo. Nisso se lembrou de que ninguém sabia onde ela estava. Como iriam procurá-la? Já eram quase sete horas da noite e ela costumava chegar em casa às cinco.
"Meu Deus! Margaret vai ficar muito preocupada!", pensou. Começou a caminhar pela estrada, e então se lembrou das regras de sobrevivência. A primeira era relaxar e fazer uma análise detalhada da situação. E foi o que fez. Recordou que tinha saído do escritório reclamando por Nick não estar presente na hora do acidente. E que Steve e Suzanne a viram naquele estado.
A segunda era não gastar toda a energia do corpo. Voltou para o carro, sentou-se, abriu a janela e procurou no porta-luvas a barra de chocolate que comprara pela manhã. Comeu um pedaço e plane­jou comer os outros a cada duas horas.
Por fim, a terceira e última regra: guardar a energia do carro para poder sinalizar pedindo ajuda. Então apagou os faróis e manteve só as lanternas acesas. Ficou tudo escuro, e ela sentiu muito medo.
Mas, lembrando-se de novo da primeira regra, acomodou-se da melhor maneira possível e decidiu esperar pelo amanhecer. Tentou dormir, mas todos os esforços foram inúteis. Não conseguia deixar de pensar em sua situação e no causador de tudo aquilo: Nick, lógico!
"Como você pôde fazer uma loucura dessas, Prih?", ela se perguntava. "Dirigir numa noite de tempestade de neve, só para dizer a Nick as mesmas verdades que poderia dizer amanhã? E Margaret como estará? E seu pai? Você não sabia que podia lhe provocar outro ataque?"
E Nick, como pôde convencer Richard a lhe vender a casa? Claro, ele era sempre muito convincente. Mas era uma afronta ver Nick comprar a casa onde ela havia crescido. O lar que tivera até ir morar com Rosemary. E ainda por cima ele planejava morar lá com Suzanne!
Com o coração apertado, imaginou Suzanne naquela casa. Sem dúvida, ela iria querer mudar a cor das paredes, trocar os lustres, tudo. E as antiguidades? Iria mantê-las, ou as colocaria no sótão? E os móveis de Margaret? Será que Nick os havia comprado tam­bém? Ou eles iriam ficar num guarda-móveis até serem esquecidos e depois vendidos a estranhos? Essas suposições amarguravam-na profundamente, e Prih desejou não chegar a ver o resultado de tudo aquilo.
"Mas Suzanne se enganou em um detalhe", Prih pensou. Ela nunca tinha pensado em herdar a casa. Simplesmente não podia imaginar Twin Rivers sem o casarão cinza com seu pai e Margaret. Também nunca tinha desejado morar ela própria na casa, mas sim poder trazer seus filhos para passarem as férias com Richard. E, agora, os moradores daquele seu reino infantil seriam Nick e Suzanne.
Prih perdeu-se em seus pensamentos durante muito tempo. Não sabia ao certo se havia dormido, mas o relógio marcava quase meia-noite. De repente, viu luzes muito fracas vindo pela estrada.
"Provavelmente outro carro", pensou. Abriu a porta, saiu patinan­do no gelo e acenou freneticamente.
Enquanto as luzes se aproximavam, desejou que o motorista a levasse de volta à cidade, ou então a algum lugar bem quentinho onde pudesse ficar até a manhã seguinte. Mas, nesse caso, deveria achar um jeito de se comunicar com Margaret para que ela deixasse de se preocupar...
A porta do jipe se abriu e Prih subiu. Ela respirava com dificul­dade e suspirou aliviada ao sentar-se.
— Para onde o senhor vai? — perguntou. Depois, arrependeu-se da pergunta. — Desculpe, não estou em posição de pedir que tome qualquer direção. Estou perdida e qualquer lugar habitado já será bom para mim.
Tinha falado tudo de um só fôlego. E percebeu que a resposta demorava a vir.
— Nunca lhe disseram que é perigoso aceitar qualquer carona, moça?
O coração de Prih pareceu parar. Só então ela olhou para o rosto do motorista. Era Nick, felizmente.



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