terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

FIC...Kiss Yesterday Goodbye CAP 5

Capítulo V


Prih estava com o livro aberto na mesma página há horas. Uma sensação estranha a incomodava, impedindo-a de se concentrar na leitura. Por mais que se esforçasse, não conseguia ignorar a presença de Nick.
Ele também estava inquieto. De vez em quando ia até a janela, mudava o disco da vitrola, atiçava o fogo, alisava os pêlos de Finnegan. Uma tensão inexplicável misturava-se ao ar daquela sala.
Finalmente Prih se levantou da poltrona onde estava reclinada e foi até o armário de bebidas.
— Esse silêncio me dá fome. Sabe onde estão os biscoitos, Nick?
— Estão ali. — Apontou para uma das portas do armário de onde Prih pegou um pacote de biscoitos produzidos pela fábrica da fa­mília. — Vai começar a fazer agora suas pesquisas sobre os produtos que fabricamos?
Ela o olhou contrariada e molhou um biscoito no chocolate quente.
— Prih, escute bem: não estou nem um pouco disposto a ouvir as suas maravilhosas idéias de como vender melhor. Por isso, limi­te-se a comer e não dê palpites, certo?
— Não se preocupe, ainda não iniciei meu trabalho e nem estou em horário de serviço. Mas, quando começar, não pense que vou me restringir a entrevistar os consumidores em supermercados. Relações públicas é um campo amplo e pretendo executar cada uma de suas fases.
— Era isso que eu temia! Minha oferta de hoje cedo continua de pé, moreninha. Quarenta mil dólares por sua parte. O melhor para você é aceitar e me deixar sozinho no negócio.
— O que está querendo, Nick? Não sou boba e sei muito bem que você está jogando comigo.
— Já que você não é boba, descubra qual é o jogo sem a minha ajuda.
Finnegan, que até aquele momento tinha se divertido puxando a manga do pulôver de Nick, escancarou de repente sua enorme boca e quase engoliu a mão do dono.
Prih gritou assustada, mas Nick apenas riu.
— Calma! Finnegan não morde quem ele conhece. É como nos negócios. A gente coloca a mão dentro da boca de um cachorro que poderia até engoli-la se quisesse. Sabe que isso não vai acontecer, mas está sempre correndo o risco. É bom para você ir aprendendo essas coisas. — Voltou-se para o cachorro. — Então, garoto, quer brincar de cabo-de-guerra?
— Você dois são uns estúpidos! — Prih resmungou e voltou ao livro.
Nick continuou falando, simulando uma conversa com Finnegan:
— Ou você prefere ficar quietinho e ouvir um pouco de música? Que tal Wagner? E Ravel?
— Se você colocar qualquer um desses seus discos horrorosos vou passar o resto da noite na cozinha com Muriel.
— Se o problema for resolvido assim, vou me arrepender de não ter pensado nisso antes.
Prih levantou-se furiosa, colocou seu livro sobre a mesa e entrou na cozinha esbravejando.
— Nick conseguiu expulsá-la da sala, Prih? — Muriel estava ocupada com o preparo da ceia de Natal.
— Eu tinha duas opções: ou saía ou o matava! E você, traba­lhando num domingo à noite?
— Meu marido está jogando baralho com os vizinhos e eu apro­veitei para adiantar estes pratos. Não quero trabalhar durante toda a semana. Também mereço um dia de folga para fazer minhas comprinhas, não?
— Claro. Muriel! Posso ajudar em alguma coisa?
— Sem dúvida! — Muriel passou-lhe uma bacia com frutas secas. — Vá tirando o caroço.
Na sala. Nick ia colocando um disco após outro, sempre esco­lhendo os que mais irritavam Prih. Até que, não obtendo resposta às provocações, resolveu subir para o quarto.
— Você rompeu com seu namorado, Prih? — perguntou Muriel.
— Não, por quê?
— Bem, ele não tem lhe telefonado...
— Ele telefonou a noite passada. — Prih lembrou-se de que naquele dia não havia pensado em Brian uma única vez.
— E vocês vão se casar?
— Não sei. Ele me pediu em casamento, mas eu ainda não decidi. Você vai gostar dele, Muriel.
O telefone tocou. O som estridente fez com que Prih estremecesse. Com Richard no hospital, o toque do telefone sempre parecia ser um chamado para más notícias. Então, ela se lembrou do recado que Nick lhe dera na noite anterior.
— Provavelmente é Brian. — Correu para atender.
— Fico feliz por encontrar você aí agora, Priscila. — Ela escutou a voz do namorado do outro lado do fio.
— Desculpe-me por ontem, Brian.
— Aproveitou bem seu encontro?
— Sim. Mas você parece zangado.
— E estou. Fiquei surpreso quando Rosemary me contou que você havia viajado para ver seu pai, e, quando lhe telefono, me contam que você está passeando. . .
— Não há nada muito interessante aqui, Brian. Não acredite nas insinuações maldosas de meu irmão adotivo. Fui ver uma peça com um grupo de amigos, só isso.
Mesmo falando calma e até brincando, Prih estava explodindo por dentro. Qualquer um que tivesse atendido ao telefonema de Brian diria simplesmente que ela não estava deixando margem para a interpretação de que poderia estar no hospital. Só Nick, com toda a sua maldade, para fazer aquela sujeira.
— Desculpe-me por estar contrariado, Prih, mas eu esperava encontrá-la em casa ou no hospital, já que seu pai está tão doente. Fiquei muito desapontado. . .
— Mas, Brian, você não ligou nos quatro primeiros dias após minha chegada, como podia esperar que fosse ligar logo no sábado à noite?
— Eu estava fora da cidade e Rosemary só pôde se comunicar comigo ontem. Por que você não me avisou antes de partir?
— Pensei nisso, Brian, mas não houve tempo. . .
— Ah, sim, estava com pressa de voltar à querida Twin Rivers!
— Não, Brian. Para voltar a ver meu pai, que, infelizmente, es­tava muito mal!
— E ele, como está?
— Agora, está melhor, já saiu da UTI e na próxima semana virá para casa. Mas eu não vou voltar, por enquanto.
Fez-se um silêncio pesado do outro lado da linha.
— Você o quê?
— Vou ficar aqui. Pelo menos durante o inverno.
— Mas você tinha que atravessar quase metade do país para decidir isso? Alguns dias, tudo bem, Priscila, mas meses? Você não pode fazer isso!
— Por que não? O único impedimento seria meu trabalho, mas já consegui outro.
— E Rosemary? O que ela pensa disso?
— Não sei. Mas ela vai para o Caribe dentro de uma semana e só voltará no final de janeiro. Não vai precisar de mim.
— E quanto a nós?
— Uma vez que ainda não estamos noivos, você não tem o di­reito de interferir nos meus planos. Sei que posso perdê-lo, mas vou mesmo ficar aqui por alguns meses.
— Rosemary está esperando que oficializemos nosso noivado neste Natal, Priscila. Até já programou uma grande festa. . .
— Ela não deveria ter programado nada sem nos consultar, Brian.
— Oh, Priscila, não seja desmancha-prazeres. Já estava tudo mais ou menos acertado. Rosemary e eu vínhamos combinando tudo há meses.
— Não mandei decidirem nada sem falar comigo. . .
— Rosemary não vai entender. . .
— É claro que vai! É só lhe dizer que é assim que eu quero.
— Quem é ele, Priscila?
— Quem é quem?
— O homem com quem esteve ontem. O mesmo que está fazendo você mudar em relação a mim e ao nosso casamento. Você já não parece à mesma.
— Brian, que ciúme é esse? Não vou ficar me explicando sem necessidade.
— Não lhe disse que ele não ia gostar? — Uma voz murmu­rou-lhe no ouvido.
Era Nick, que estava por trás dela e que devia ter ouvido boa parte da conversa.
— Você poderia calar a boca?
— Priscila! — Brian espantou-se. — Jamais pensei que chega­ríamos a isto! Ligo dentro de alguns dias para saber se você mudou de idéia. — E desligou antes que ela pudesse desfazer o engano.
Muda, Prih colocou o fone no gancho e ficou vendo o sorriso zombeteiro de Nick.
— Está contente agora? Já fez com que Brian brigasse comigo. Que mais vai fazer? — Prih estava furiosa.
— Eu? E por que estaria contente? Ele não me interessa. O pro­blema é de vocês...
A discussão foi interrompida por uma voz aguda e excitada. Era Suzanne que chegava, trazendo uma porção enorme de pipocas. Es­tava vestida com jeans e sapatos com os saltos mais altos que Jenny já vira.
E, antes que Nick dissesse qualquer coisa, já estava na cozinha.
— Você teria caramelo para nos dar um pouco, Muriel? — Ela ignorou a presença de Prih.
— Sim. Nick vai pegar para você no armário. Só que tem uma coisa: estamos muito ocupadas e aqui não é o melhor lugar para caramelizarem essas pipocas.
— Não faz mal. — E voltou-se para Nick. — Podemos ir à ca­bana, não é? Lá podemos fazer o que quisermos e não vamos atra­palhar ninguém.
— Sinto muito, Suzanne. Mas não estou com a menor vontade de dirigir. Mesmo por poucos quilômetros. Talvez você não saiba, mas a estrada é muito perigosa quando está nevando.
Prih balançou a cabeça, fazendo um ar de desaprovação.
— Oh, Nick, estou desapontada com você. Onde está aquele es­pírito aventureiro?
— E você tem o jipe, Nick. Não haverá perigo. Pense em como seria bom ficar lá sem telefone, ou coisa assim — insinuou Suzanne.
— E ninguém para atrapalhar — completou Prih.
Nick a olhou feio. Mas, antes que pudesse responder, bateram à porta e ele foi abrir.
— Eu sabia que aquele cheiro gostoso que estava sentindo desde a cidade era a comida de Muriel — brincou Steve. — Meu nariz nunca se engana.
— Venha cá, seu esfomeado. Pegue um pedaço deste assado para matar a vontade. — A governanta riu, envaidecida.
Prih tinha ficado de lado, ouvindo aquela conversa.
— Então, Steve, o que é que você veio fazer aqui com todo esse frio?
— Quase nada. Vim trazer seu presente de Natal, Prih. Se você quiser, claro.
— E o que é?
Steve abriu a jaqueta e tirou uma caixinha com uns vinte centí­metros de cada lado. Prih a abriu e ficou maravilhada com o con­teúdo. Uma bolinha peluda, preta, com um longo e inquieto rabicho e uma pinta branca.
— Um gatinho! Claro que quero. Onde você o conseguiu?
— Minha gata deu cria. Este era o único totalmente preto. E também o mais bonito e mais esperto.
— Presente muito adequado! — Suzanne falou e depois se dirigiu a Nick. — Pelo que vejo você não tem tempo para mim esta noite, não é? Não se preocupe, já estou indo. Conversamos amanhã. — E saiu,
— Coitada dessa moça — murmurou Prih.
— O que aflige a sexy Suzanne? — perguntou Steve.
— Que história é essa de sexy Suzanne? — Prih quis saber, en­quanto tirava o gatinho de seus ombros e o obrigava a parar com a brincadeira em seus cabelos.
— É assim que os garotos a chamam na empresa — explicou Steve meio sem jeito.
— Espero que isso não se espalhe, Steve — pediu Nick.
Desajeitado, Steve balançou a cabeça. Prih teve a impressão de que ele também não gostava de Suzanne.
Ninguém dizia nada. Prih tentava desembaraçar seus cabelos das patinhas do gato. De repente Finnegan entrou correndo pela cozinha. O rápido movimento do cachorro colocou o gato em alerta. Fin­negan aproximou-se e parou para olhar mais de perto aquela criatura que, pelo jeito, estava vindo tirar uma parte das atenções que eram dele. Assustado, o gato eriçou os pêlos e, ao tentar fugir, suas unhas arranharam o pescoço de Prih.
A dor foi tanta que Prih mal pôde ver a corrida dos dois bichos. O gato corria na frente, assustado, derrubando o que podia. O cão, atrás, arrastava cadeiras e vasos. Por todo lugar onde passavam era uma destruição total. Muriel e Steve, petrificados, só olhavam.
Ao ver Prih ferida, Nick, em dois passos, atravessou a sala e tirou suas mãos do pescoço ensangüentado.
— Ai, como dói. Está muito ferido? — Prih quase chorava.
— Bastante, mas não dá para sair às tripas — brincou Nick. E levando-a pelo braço a fez sentar-se na poltrona de Margaret.
— Deixe, Nick. Posso cuidar disso sozinha.
— Não pode, não. E fique quietinha aí enquanto procuro a caixa de pronto-socorro.
— Mas Margaret vai me matar se essa poltrona ficar suja de sangue.
— Se você tomar cuidado, isso não vai acontecer. Respire fundo. Vai arder um pouco.
E ardeu. Os olhos de Prih se encheram de lágrimas.
— Qual o nome que você vai dar ao gato?
— Não sei ainda...
— Se eu puder sugerir um... Que tal Lúcifer?
— Por que Lúcifer?
— Tem algo a ver com o demônio. Começou fazendo maldades.
— De maneira alguma. A culpa foi do seu cachorro. O pobre animal ficou assustado.
— Se assustado ele faz o estrago que fez no seu pescoço, imagine o que vai fazer quando estiver acuado...
— Vai ficar cicatriz, Nick?
Diante das lágrimas que marejavam os olhos dela, Nick não teve coragem de amedrontá-la mais ainda.
— Não, não vai. Foi só um arranhão. — E virou-se para guardar a caixa de remédios.
De repente, como se tivesse tido uma grande idéia, ele se voltou para Prih.
— Depois do que ocorreu moreninha, você vai me fazer duas pro­messas. A primeira é que vai levar esse gato ao veterinário para arrancar as unhas. . .
— Tem razão. Imagino que é a melhor coisa a fazer. E a segunda promessa, o que é?
— Humm, bem. . . Essa eu cobro depois. Aceito os agradecimentos mais tarde. Não gosto de beijar garotas choronas.

Prih fechou o livro de contabilidade e olhou para a xícara de café que lhe trouxeram. Pensava nas informações que tinha colhido. Realmente a Twin Rivers Bakeries registrará um aumento conside­rável nos lucros dos últimos anos. Mas alguma coisa poderia melho­rar ainda mais aquele sistema todo. E ela precisava descobrir o que era. Tomou um gole do café e fez uma careta. Se havia uma coisa que ela não podia suportar na empresa era o café. Estava gelado. Será que Suzanne havia colocado um cubo de gelo em sua xícara? Podia ser. Afinal, ela não estava nada feliz com a presença de Prih ali, apesar de ainda não ter sido abertamente hostil. Apenas dificul­tava o trabalho, demorando a fazer o que lhe era solicitado.
Prih ficou pensando se Nick a teria instruído para agir daquela maneira, ou se ela o fazia por conta própria. Provavelmente ele não sabia de nada. Talvez Suzanne estivesse apenas dando o troco pela desatenção com que Nick a tratara no domingo. Ou, então, estaria com ciúme dela.
"Coitada. Não sabe que não tem nada a temer de mim", murmu­rou para si mesma.
Prih aproximou-se de Steve e AJ, que também tomavam café ali perto. Resolveu reclamar da música ambiente, que estava num vo­lume muito alto.
— Como vocês agüentam isso?
— Agüentam o quê? — quis saber Steve.
— Esse tipo de música, e tão alto!
— Ah, sim. É porque a maioria dos empregados gosta dessas músicas. E nesse volume. Vamos, sente-se.
— Estou surpresa por Nick ter permitido outro tipo de música que não a clássica!
— Ora, Nick é muito tolerante! E você, como se saiu nestes três dias?
— Sobrevivi. O fato de Nick não ter ficado por aqui ajudou bastante.
— A cabana dele é muito agradável, mas não acho que seja bom ficar tanto tempo isolado! — comentou AJ.
— Mas ele não está na cabana. Ainda há pouco ele estava indo para o laboratório — afirmou Steve. — Acho que Nick está desen­volvendo algum novo trabalho. Seus projetos têm tido ótima aceitação!
— Que laboratório? — perguntou Prih.
— Você não sabe que ele montou um laboratório completo aqui na fábrica? — AJ surpreendeu-se.
— Então é onde ele passa todo o tempo? Brincando com misturas até que tudo acabe em explosão e leve o prédio pelos ares?
AJ a olhou, desconcertado.
— Prih, a maioria das pesquisas de Nick tem aplicação imediata. São produtos geralmente necessários. — Ele tentava contornar o clima desagradável que ficou.
— Você já esteve no laboratório?
— No laboratório dele? Você está louca?
— Então como pode saber o que acontece lá dentro?
— Certamente não são orgias, se é isso que você está sugerindo.
 Steve, descontente com o rumo da conversa, resolveu interferir:
— Você vai à festa de Natal da companhia, Prih? É no sábado à noite.
— Ainda não pensei nisso, mas acho que irei.
— Certamente você vai com Nick, não?
Prih surpreendeu-se. Jamais pensara naquela possibilidade.
— Nick? Por que ele iria querer me levar? Não me quer nem trabalhando aqui, imagine então participando de uma festa da em­presa. Não, não vou com ele. Ele não se daria ao trabalho de me convidar.
— Afinal, Prih, o que você tem contra Nick? Ele é uma das me­lhores pessoas que eu conheço. — AJ estava ficando irritado.
— Vê-se que você não o conhece direito.
Steve, de propósito, insistiu no assunto anterior.
— Já que não vai com Nick, quer ir comigo? A festa costuma ser muito animada. Poderíamos ir com AJ e Alison, não?
Antes que Prih respondesse, alguém falou por ela:
— Mas é claro que ela vai. Como poderia deixar de estar com pessoas tão agradáveis quanto nós? — Era Alison, toda animada, que chegava trazendo Molly.
Prih quis logo pegar a menina. Como era graciosa! Impossível não gostar daquela carinha tão risonha e simpática!
— Cuidado, Prih. Ela acabou de tomar o lanche da tarde. Se você a balançar muito, poderá ficar com esse lindo conjunto todo sujo! — avisou Alison.
— Não vou ter nenhum ataque se ela fizer uma coisa que todo bebê faz! — protestou Prih.
— Pode ser que você não fique brava com ela, mas eu não vou gostar. Esse conjunto deve ter custado uma fortuna!
Todos riram. E Alison quis a confirmação de Prih quanto à pre­sença na festa.
— Claro Alison! Vou gostar muito de ir, e logicamente que irei com vocês. Nick jamais me levaria. Decerto vai com Suzanne.
— Isso é verdade. Ela acabou de dizer que vão juntos — confir­mou Alison.
Molly resolveu querer a mãe, e, chorando, tentava sair dos braços de Priscila. Alison pegou-a.
— Não sei o que fazer para que esta menina se acostume com outras pessoas. AJ e eu queremos viajar no próximo fim de semana, mas não sei com quem deixá-la.
— Se você está precisando de uma babá, pode contar comigo — ofereceu-se Prih.
— Você é um anjo, querida — agradeceu Alison. E se despediu, avisando que ia embora.
— Só um minutinho, Alison. Acompanho você. Preciso mesmo ir ao hospital. — Prih levantou-se para ir buscar a bolsa e o casaco que estavam no escritório.
Ao entrar na sala, a presença de Nick a surpreendeu. Ele vestia uma capa branca e estava com os cabelos despenteados. Havia aca­bado de assinar uma carta e ainda estava inclinado sobre a mesa da secretária. Prih notou que Suzanne, aproveitando a oportunidade, se achegava de maneira muito íntima a ele.
"Será que eles não podem deixar isso para depois do expediente?", Prih censurou-os intimamente, contrariada.
— Muito bem! Quatro horas da tarde: excelente horário para chegar ao trabalho! — Prih interrompeu-os, sem nenhuma discrição.
— Oi, moreninha. Mas já está indo embora? — Nick cruzou as pernas sobre um canto da mesa de Suzanne.
Prih então constatou que, mesmo despenteado como estava, ele irradiava uma autoconfiança e uma masculinidade irresistíveis. Pobre Suzanne! Como devia se perturbar! Era uma tola, pois em Nick tudo era fingido, planejado.
— Estou aqui desde as oito da manhã — respondeu Prih.
Eu também cheguei aqui há essa hora, você acredite ou não.
— Mas não estava ocupado com os negócios da empresa.
— De onde você tirou tanta certeza sobre isso? — Aproximou-se dela e afastou os cabelos que cobriam a região do pescoço arranhada pelas unhas de Lúcifer.
— E os seus ferimentos, como estão?
— Bem, obrigada. — Prih colocou-se em estado de alerta.
Nick observou os cortes e passou de leve os dedos no pescoço dela, acompanhando as linhas do ferimento. Prih ficou arrepiada com o toque, e ele sorriu.
— Tem razão, estão bem. Mas continue cuidando direitinho deles para não ficar com marcas eternas nesse lindo pescocinho!
— Obrigada, Dr. Sutherland. — Ele tinha conseguido irritá-la du­plamente.
— E prepare-se para assistir a outra terrível briga de cão e gato quando chegar em casa. Estive lá na hora do almoço e eles ainda não tinham colocado fim à guerra. Seu gatinho vai acabar enlouquecendo meu cachorro!
— Duvido. Para se enlouquecer é preciso pelo menos um pouco de inteligência, coisa que Finnegan não tem um pingo.
— Você não está tentando insinuar nada, certo? — Nick ameaçou.
Antes que tivesse respondido qualquer coisa ela interceptou um olhar carregado de ódio que Suzanne lhe lançava. Então resolveu dar por encerrada aquela conversa que não ia mesmo levar a nada. Despediu-se e saiu acompanhada de Alison.
— Que frio! — reclamava Alison. — E o pior é que foi previsto um inverno mais longo este ano. . . Ainda bem que tenho um ves­tido novo bem quentinho para ir à festa de Natal. . .
— E como será essa festa, Alison?
— Como todos os anos, Prih. Muita comida e uma orquestra para dançarmos a noite inteira.
— Hum, isso me parece coisa de Nick! Provavelmente ele pagou mais para a orquestra do que pela comida, e com certeza escolheu as músicas com mais empenho do que o cardápio. . .
— Oh, Prih! Você quer parar com isso? — Alison ficou visi­velmente contrariada.
— Mas por que todo mundo por aqui o defende? Vocês não vêem o que ele está fazendo? Não está ligando nada para os negócios da firma, só quer ficar enfocado naquele laboratório!
— Você está trabalhando aqui há três dias e já percebeu tudo isso, Prih? Só que está enganada. Nick jamais descuidou da fábrica. Quando alguma coisa está saindo errada ele é o primeiro, a saber. . . — Colocou Molly no assento traseiro do carro e completou: — E deixe-me lhe dizer uma coisa, Prih: é muito desagradável ouvir você falar mal de Nick. Afinal, ele também é nosso amigo. Adoro você, mas, por favor, esqueça-o quando estivermos juntos, certo?
— Não sei se vou conseguir.
— Faça um esforço!

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