sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

FIC...Kiss Yesterday Goodbye CAP 2


Capítulo II


A neve já caía intermitente, quando Priscila deixou o hospital, que tinha sido doado por seu avô paterno à Universidade de Twin Rivers. Atravessou todo o parque e passou pela frente dos escritórios da Stanford, em direção ao centro da cidade.
Tinha visto e falado com o pai ainda por mais duas vezes. Na última delas, já à beira da exaustão e sob influência daquela atmos­fera desoladora, fora aconselhada pelo próprio Richard a ir para casa e repousar. Era admirável como, mesmo nas condições em que se encontrava, ele se preocupava mais com ela que consigo mesmo.
Prih havia passado a tarde inteira pensando nas palavras do Dr. Grantham. Tudo o que ele dissera era mesmo verdade, e isso a esta­va atingindo profundamente. De fato, só conseguia lembrar-se da extrema atenção que o pai lhe dedicara durante toda a sua infância. Ele jamais lhe faltara. Mas isto era motivo suficiente para fazê-la ficar o inverno inteiro, enquanto aguardava seu restabelecimento? O coração pedia que ficasse. Havia sofrido com a ausência do pai na­queles cinco anos, e agora ele a queria perto de si. O trabalho pode­ria esperar e quanto a Brian ele iria entender, afinal, nada havia de definitivo entre eles. Rosemary sem dúvida iria reclamar, mas aca­baria aceitando.
O que realmente a amedrontava era ter de viver sob o mesmo teto que Nick, durante o tempo que ali permanecesse, Priscila admitiu, enfim. As brigas seriam inevitáveis e o máximo que conseguiriam seria estabelecer uma trégua para não perturbar Richard. Mesmo assim, iria ser muito difícil um clima de entendimento entre eles porque ela jamais daria a Nick a satisfação de dirigir sua vida. Só estava ali pelo pai, apesar de que, a bem da verdade, aquela casa pertencia-lhe muito mais que a ele.
— Prih! Prih!
Ela se voltou e viu uma moça morena que a alcançava, empur­rando um carrinho de bebê!
— Com esses cabelos Castanhos, eu sabia que só podia ser você!
— Alisam! — exclamou Priscila, surpresa. — Você ainda está mo­rando aqui?
— Sim, meus planos de estrela da Broadway tiveram uma peque­na mudança quando me apaixonei e acabei me casando. — Ela levantou o nariz, gracejando. — E sabe com quem? Com um dos seus antigos namorados: AJ Mclean.
Prih olhou para a criança que estava dentro do carrinho.
— E este deve ser o pequeno Alex!
— Não. É a pequena Molly. Você tem tempo para tomarmos um café? Estive fazendo compras a tarde toda. Estou cansada e louca para saber das novidades!
— Sim, vamos. Só que não poderei demorar muito.
— Você voltou a Twin Rivers para ficar, não? — Alison pergun­tou ansiosa pela confirmação.
— Apenas por alguns dias. . .
— Na verdade, pensei que você nunca mais voltaria a esta cidade.
— Eu não pretendia mesmo voltar. Porém, com a doença de papai, foi necessário. Mas você, mesmo assim, poderia ter me con­vidado para o casamento. Como pôde casar-se com meu melhor namorado e não me avisar?
— Eu perderia qualquer chance de me casar se ele mudasse de idéia na última hora. E apenas uma olhadinha para você, e adeus casamento. . .
As duas amigas riram, descontraídas.
— Mudando de assunto, como está seu pai, Prih?
— Ele me pareceu muito abatido, mas o Dr. Grantham garantiu-me que se recuperará.
— Todo o pessoal da Twin Rivers Bakeries está preocupado com ele. AJ disse-me que, ontem mesmo, fizeram uma lista para mandar flores a seu pai em nome de todos os empregados.
— AJ também trabalha lá?
— Sim, ele é gerente do pessoal. Trabalha junto com Steve Whitman.
— Eu conheci Steve. E quem é o auxiliar de Nick?
— O próprio Steve. E você, Prih, o que faz?
— Faço uma espécie de Relações Públicas e de Propaganda. É um trabalho muito interessante.
— Tão interessante que já lhe deu oportunidade de se casar. Ou não?
— Não, não pensei nisso por enquanto.
— Oh, Prih, estou desapontada. Lembra-se de que havíamos com­binado que eu seria uma segunda Sara Bernhardt no cinema e você uma secretária executiva da Casa Branca? E quanto às centenas de belos cavalheiros que nos rodeariam? Não há, realmente, nenhum?
— Ah, sim, Alison, um aqui, outro ali. Nada de sério.
— Então está explicado. Você está esperando por alguém espe­cial. Talvez até já o conheça, mas não sabe ainda quem é. . .
Nesse momento a pequena Molly começou a chorar, e Alison, sem conseguir acalentá-la, despediu-se.
— É uma pena, mas agora não vai dar mais para saber dos deta­lhes da sua vida sentimental! O dever de mãe me chama! Mas pro­meto me comunicar com você para fazermos algum programa. Não pense que vai esconder de mim o caso com o homem maravilhoso que a está perturbando...
— Como pode estar tão certa de que existe um homem?
— Porque você nunca conseguiu ficar sem um. . .
Despediram-se com um beijo, e Alison afastou-se com a criança, que ainda chorava.
Priscila permaneceu sentada por mais algum tempo, lembrando-se de sua adolescência, quando ela e Alison tinham sido amigas, troca­do confidências e feito a relação dos rapazes mais interessantes da cidade. Havia sido bom reencontrá-la. Pena que ficaria tão pouco tempo na cidade e que decerto não se falariam mais.
Saiu do café e caminhou em direção ao hotel onde tinha deixado as malas e feito reserva. O frio estava ainda mais cortante, e, ao procurar o capuz para proteger a cabeça, não o encontrou. Pensou em voltar para ver se o havia perdido no caminho, quando se lem­brou de que Nick, perto do lago, tirara-o de sua cabeça e não o devolvera. Bem, ela compraria outro. Não iria dar-se ao trabalho de pedi-lo de volta. Se era isso que ele queria, ia ficar desapontado.
Ao chegar ao hotel, pediu a chave do quarto. O recepcionista, desconcertado, respondeu:
— Mas a senhorita cancelou a reserva. . .
— Estou mais do que certa de que não fiz isso, senhor...
— Mas suas malas até já foram retiradas e sua conta paga!
Respirando fundo, como se de súbito houvesse compreendido o que tinha ocorrido, Priscila perguntou:
— Não foi Nickolas Carter quem tomou essas providências?
— Sim, Srta. Stanford. Foi ele mesmo. Ele disse. . .
Priscila não estava nem um pouco interessada em saber o que Nick tinha dito ou deixado de dizer.
Bem, pelo menos ele deixou meu carro, ou o levou também?
— Não, senhorita, não levou. Seu carro está em nosso estaciona­mento.
— Obrigada — disse, virando as costas.
Dirigindo rumo à casa dos Stanford, Prih olhava sem nenhuma emoção a bela estrada que margeava um dos rios da cidade. Ao longe, avistava o telhado da casa que a havia abrigado até os dezessete anos. Em outras circunstâncias teria se emocionado até as lágri­mas. Mas agora, com todo aquele peso no coração por causa do pai e apreensiva diante da expectativa do convívio com Nick, era como se nada lhe dissesse respeito.
Estacionou na frente da casa e, antes mesmo de apertar a cam­painha, foi paralisada repentinamente pela voz de Nick:
— Ela não é Miss América. Disto tenho certeza. Não sei por que mamãe insistiu em chamá-la. Provavelmente, ela vai provocar outro ataque cardíaco em Richard!
Não podendo resistir, Prih abriu a porta e o interrompeu:
— Provavelmente porque quem está morrendo numa cama de hospital é o meu pai, e não o seu. — Frisou muito bem as palavras.
Nick a olhou, desconcertado, mas continuou, voltando-se para a governanta como se nada houvesse acontecido.
— Bem, como eu estava dizendo, Muriel, não sei o que mamãe pensa que a Moreninha pode fazer por aqui.
— Se você acha que minha presença é tão desnecessária, por que não me deixou no hotel? Eu estaria perfeitamente bem lá.
— Por causa das aparências. Mamãe não queria dizer a Richard que a filha pródiga não havia voltado à casa ao final de tudo.
— Bem, devolva então minha bagagem e eu terei o maior prazer em sair daqui. E não se preocupe. Direi a papai que a idéia foi minha e não de sua digníssima família.
Olhando-a com malícia e jogando amendoins para Finnegan, Nick respondeu:
— Quanta abnegação! Só que a mim você não engana. Está aqui por sua parte na herança e sei que ficará perto dela para ver se ainda está inteira.
— Cale-se. Você fala como se eu fosse um abutre!
— E não é?
A governanta, que havia se mantido calada, finalmente os interrompeu:
— Agora chega vocês dois. Eu pensava que, com o tempo, vocês iam crescer e parar com essas brigas tolas, mas já vi que não. Se não se calarem, serei obrigada a lhes dar algumas palmadas, como se fossem crianças. — E completou: — Nick, Richard não morreu. Portanto, pare com essa conversa sem sentido. E você, Priscila, venha comer alguma coisa.
Nick, em silêncio, retirou-se e Muriel, voltando-se para Prih, a repreendeu:
— Menina, da próxima vez que a vir mencionando qualquer coisa desagradável quanto a Margaret, como esse negócio de "sua digníssima família", vou passar-lhe sabão na boca. Ofenda Nick, se quiser. Vocês dois se merecem. Mas não sua mãe. Ela nunca fez nada que a magoasse.
— Eu não queria ficar nessa casa. . .
— Não, mas vai — Muriel disse categoricamente. — E que esta seja a última vez que diz qualquer coisa sem pensar. — Depois amaciou a voz: — Prih, se você está aqui contra sua vontade, Nick também não está satisfeito. Mas ficar brigando não vai levar a nada e vocês terão que se suportar até Richard ficar melhor. Então, não é melhor fazerem as pazes por algum tempo?
— Foi ele quem começou tudo...
— Priscila, deixe de criancice! Falarei com ele também. Agora, suba, tome seu banho, e venha jantar antes que a comida fique fria.
— Oh, Muriel! Até parece que ainda tenho dez anos!
— É mais ou menos isso mesmo! — respondeu a governanta sorrindo.
Prih subiu as escadas acarpetadas em direção ao seu antigo quarto, lembrando de como Muriel sempre a cercara de amor. As recordações que tinha de sua infância traziam sempre Muriel e não sua mãe.
O quarto estava exatamente como ela o deixara. As paredes pinta­das de verde, a cama coberta com mantas e já preparada para a noite, as cortinas puxadas para as laterais das janelas, deixando ver uma parte da cidade. Nada havia sido mudado. Até seus vestidos continuavam nos cabides.
Priscila sentiu-se tão leve que não teve vontade nem mesmo de abrir as malas. Usaria uma de suas antigas roupas. De quem teria sido a idéia de manter tudo daquele jeito? De Muriel ou de Margaret?
Já estava enrolada em um roupão, pronta para o banho, quando alguém bateu na porta. Era Margaret.
— Como você ficou bonita depois de crescida, Prih! — disse ela, com uma voz tão doce que deu à enteada a impressão de que era realmente bem-vinda a casa. — Eu estava saindo para ir ao hospital, mas queria te ver antes!
Margaret usava um terninho vermelho que destacava ainda mais seus cabelos grisalhos. Como sempre, estava tão bem penteada como se tivesse acabado de sair do cabeleireiro. Apenas pareceu menor ainda a Priscila. O passar dos anos a teria tornado mais frágil ou Prih a estava vendo agora com outros olhos?
"Muriel estava com toda a razão", pensou Prih. "Margaret sem­pre tentou manter um bom relacionamento comigo. Eu é que fui uma adolescente que teimava em não aceitá-la..."
Margaret sorriu e estendeu a mão a Priscila, mostrando receio quanto à maneira com que seria recebida. Priscila, surpreendendo-se, teve vontade de beijá-la, e beijou.
— Estou tão contente que tenha vindo querida! Você não ima­gina o quanto queria tê-la conosco outra vez!
— Não sei se poderei ajudar em alguma coisa. . .
— A sua presença é a maior ajuda que poderíamos esperar!
— Quer que eu vá com você? — perguntou Priscila, ansiosa por se fazer útil.
— Oh, não! Obrigada, querida. Não vou ficar lá a noite toda. E você está parecendo tão cansada. Durma bem e, se quiser, passe a parte da manhã com seu pai, certo?
— Tem razão. Estou mesmo cansada. Foi uma longa viagem. Mas papai me pareceu tão mal! Estou angustiada por ele.
— Tudo o que poderíamos fazer está sendo feito, Prih. Bem, preciso ir. Até amanhã.
Margaret já estava na porta quando se voltou.
— Prih, querida, é muito importante para eu tê-la de volta. E para Richard também, é claro.
Priscila percebeu que Margaret, cautelosamente, tinha deixado de mencionar a opinião de Nick.
'"Tudo bem", pensou, "vou fazer de conta que ele não existe e espero que faça o mesmo em relação a mim".
Logo que Margaret saiu, tomou seu banho e vestiu-se para o jantar. Contrariando o costume da família, decidiu-se por uma velha blusa e uma calça comprida, ao invés dos vestidos sociais usados para a noite. Imaginou que acabaria jantando sozinha. Mas se Nick estivesse presente certamente ficaria chocado com seus trajes.
Pouco depois, após descer as escadas, encontrou Nick esperando por ela na sala. Surpreendeu-se ao vê-lo vestido de maneira muito mais à vontade ainda do que ela. Mas não disse nada.
— Quer beber alguma coisa? — perguntou ele. — Ou ainda está na fase da adolescência e proibida de beber?
Priscila estava decidida a não lhe dar chances de discussão.
— Se tiver um Martini, aceito. Obrigada.
Nick olhou-a de lado e a serviu com um meio sorriso. Não resistindo à curiosidade, ela perguntou:
 — A alta sociedade daqui usa trajes como o seu para as gran­des ocasiões?
— Não, querida. Esquecemos de lhe dizer, mas não costuma­mos mais nos vestir de modo especial para os jantares de casa. É um hábito muito dispendioso e só mantido pelos "novos-ricos".
— Se isso é uma censura a Rosemary. . .
— Não, morena, é uma censura a você.
— Gostaria que você não me chamasse de morena.
— Oh, desculpe-me. Mas é inevitável. Cada vez que a olho, mais se reforça a idéia.
Prih sentou-se e, para disfarçar a tensão que a invadia, colo­cou o copo sobre a mesa e pôs-se a observar os quadros das pa­redes. De repente, ao voltar-se, viu que Finnegan tinha derrubado todo o seu Martini e o lambia com avidez.
— Me esqueci de avisar. Não deixe qualquer bebida perto de Finnegan. Ele é o "alcoólatra da família".
— Agradeço o aviso. Aliás, este cachorro não tem outros ví­cios? Gosta só de beber?
— Claro. Foi assim que ele ganhou o nome que tem. No dia em que eu o trouxe para casa, seu pai estava bebendo um uísque com soda e quando se distraiu Finnegan tomou-o todo. Então Richard passou a chamá-lo de Finnegan's Wake. Aquele da canção irlandesa.
Prih lembrou-se de seu pai cantando a canção que Nick men­cionara, e sentiu o coração apertar-se. Como se tivesse adivinhado seus sentimentos, Nick procurou distraí-la:
— Bem, vamos jantar. Será uma pena deixar a comida de Mu­riel esfriar. Você se incomoda se jantarmos na cozinha mesmo? A sala de jantar parece inadequada para uma refeição rápida.
— Por mim, tudo bem. — Ela não queria lhe dar motivos para mencionar novamente Rosemary e suas manias de grandeza. Sem dúvida, ele a estava testando.
— Você já decidiu até quando vai ficar? — perguntou ele, no tom mais casual possível.
— Ainda não. Mas papai não quer que eu vá.
— Talvez seu serviço não lhe permita ficar muito tempo.
— Ficarei até que papai esteja fora de perigo.
— É claro, dinheiro não é problema, não? Com a fortuna de sua mãe, trabalhar é um hobby para você — ironizou Nick, enquanto olhava fixamente o anel de brilhante que Prih trazia no dedo.
Prih havia acompanhado a direção de seus olhos.
— É verdadeiro, se é o que você quer saber. Foi presente de aniversário. E se você está tentando me irritar, Nick, perde seu tempo. Vou ficar aqui o tempo que quiser, com ou sem sua per­missão.
Nick não respondeu e Prih sentiu-se vitoriosa. Aquela era sua primeira vitória sobre ele. Provavelmente porque ele estava espe­rando lidar com a mesma garota de cinco anos antes e não com a mulher de agora, que sabia como manejar os homens.
Depois dessa descoberta, o bolo de queijo que Muriel deixara para a sobremesa ficou até mais gostoso. Terminado o jantar, Nick colocou um disco no aparelho de som e veio sentar-se perto dela.
— Uma cena familiar quase perfeita — falou em tom de ironia.
— Você nunca fez parte da família, Nick. Você foi apenas um acidente!
— Oh, Prih! Seu jeito não melhorou nada com os anos. . .
— Não sou vinho que melhora de sabor com o tempo. E, se me recordo bem, você disse certa vez que eu era atraente.
— Você se refere ao último Natal que passou conosco? Era apenas o seu corpo, e não a sua inteligência que eu mencionava.
— Obrigada mesmo assim. Meu ego agradece. . .
— Às ordens. Aliás, eu ficaria muito feliz em poder comprovar se a impressão que tive era verdadeira. . .
— Que você quer dizer com isso?
— Que você, como toda adolescente tolinha, me provocou e depois tirou o corpo fora.
— Quer dizer que eu era provocante?
— Você sabe que sim. Todas as adolescentes são. E olhe que não me refiro às roupas que costumam usar, ou deixam de usar. . .
— As roupas que eu estava usando naquele Natal eram roupas comuns, e mesmo o episódio não teve nada de muito especial.
— Na verdade, refiro-me às roupas que não usava. . . Sutiãs, por exemplo. E quanto ao que aconteceu se foi tão pouco impor­tante, assim, por que nós dois lembramos ele?
— Provavelmente porque foi algo muito desagradável!
— Tenho certeza de que você gostou. Quer que faça uma de­monstração para avivar-lhe a memória?
— Não, obrigada. Se eu quiser ser maltratada, vou ao zoológico e procuro um urso cinzento para trocar carícias.
— Que espécie de homens você conheceu nos últimos cinco anos, Priscila?
— Nenhum do seu tipo, graças a Deus!
— Talvez seja verdade, Prih. Mas poderíamos esquecer tudo e começar de novo. Seu corpo continua muito apetitoso. — Olhou-a de maneira provocante. — Eu poderia até esquecer este seu gênio infernal!
— Por acaso já se olhou no espelho, Nick? E por que diabos você acha que me atrai? — Priscila levantou-se, furiosa.
— Por isto — Nick respondeu baixinho e beijou-a, enquanto a puxava de volta ao sofá.
Sua boca era quente, gentil e se movimentava sensualmente sobre a dela. Abriu-lhe os lábios com a língua e atingiu a parte sensível de sua boca. Depois, cobriu-lhe a face e o contorno das orelhas com demorados beijos.
Com esforço, Priscila mantinha-se impassível. Conseguia não reagir apesar de tudo. E supunha que aquela atitude o deixaria louco. Se ele queria provar que era irresistível, estava perdendo tempo. Por fim, afastou-o com uma expressão enfadada.
— Desculpe-me, mas você não vai conseguir nada. Eu não tenho mais dezessete anos. Deixe-me subir, sim?
— Qual é o problema, Prih? Há pouco você me insultou dizen­do que nunca fiz parte da família, agora, quando a beijo, age como se eu estivesse cometendo um crime!
— Há muitos homens que não têm nada a ver com minha famí­lia e que eu não quero beijar! — ela argumentou.
Sua voz soou trêmula. As mãos de Nick acariciavam-lhe o pes­coço, espalhando lassidão por todo o seu corpo. Estava ficando extremamente difícil continuar se fazendo de objeto inerte.
Nick sorriu:
— Estou certo de que diz a verdade. Você não reage mesmo como uma mulher normal! — Detendo uma das mãos um pouco acima de seus seios, ironizou: — Que foi Prih? Seu coração está batendo disparado! E esta veia está pulando! Está com medo de que eu a beije novamente? Ou que não?
Ela se soltou, aparentando uma calma que não sentia.
— Vou para a cama. Estou cansada.
— Está fugindo de novo? Oh, Morena querida, precisa parar com isso. Nunca pensei que você fosse covarde. . .
Priscila subiu as escadas e fechou à chave a porta de seu quarto. Respirava com dificuldade. Sem dúvida, as coisas seriam muito mais difíceis do que imaginara.
Havia se esquecido de que Nick jamais entregava os pontos sem lutar e que usava todas as armas de que dispusesse leais ou não. A sua simples presença já era uma ameaça à segurança dele na empresa e ela podia esperar tudo em se tratando de Nickolas Carter.
"Bem, Prih, agora você já conhece o plano de ataque dele. Fique preparada que vai ser fácil se controlar", ela disse para si mesma.
Belas palavras! Mas ela conseguiria se controlar? Priscila não enten­dia por que um homem de quem não gostava, ou melhor, odiava, conseguia ter aquele poder sobre ela.
Fechou os olhos e se lembrou daquele fatídico Natal de cinco anos antes. Nick tinha então vinte e dois anos. Estava em casa passando dez dias de suas férias escolares. Na manhã de sua partida, tinham tido mais uma discussão e ela fora para o quarto e não quisera descer para se despedir.
Como ela teimara em não sair do quarto, Nick entrara com jeito de quem queria fazer as pazes, perguntando se ela não lhe daria nem um beijo de despedida. Priscila não respondera. Agia como se não houvesse ninguém além dela naquele aposento. Afinal, por que agora ele lhe dava a face para beijar? Nos cinco anos que viveram na mesma casa, podia contar nos dedos às vezes em que a tinha beijado.
Diante da atitude de Priscila, Nick ficara irritado e, como para mostrar que era mais forte do que ela jogara-a contra a cama, prendera-lhe os braços e as pernas sob o corpo, e tentara beijá-la no rosto.
Mas ela se debatia e; em certo momento, seus lábios se tocaram. Tudo acontecera muito rápido, mas Prih ficara vermelha e emba­raçada, e ele, dominado por uma excitação violenta.
Nick, então, relaxara a pressão do corpo sobre ela, e, ao voltar-se, seus olhos se encontraram. Ela perdera toda a noção de bom senso e, dessa vez, seus lábios se procuraram.
"Aquele beijo foi bem diferente do outro...", Prih pensou, sentindo-se culpada. Ela ainda podia sentir a temperatura de seu corpo aumentar com a lembrança dos carinhos dele. E poderiam ter passado do estágio de um beijo se Richard e Margaret não estivessem subindo as escadas.
O que aconteceu depois, não conseguia se lembrar muito bem. Sabia apenas que tinha ficado quase histérica de medo. Não dele, mas por causa do desejo que sentia crescer dentro de si.
Depois disso, nunca mais o vira. Ele deixou suas habituais visitas de fim de semana e passou as férias seguintes com amigos.
Nick ainda não havia voltado a casa quando ela se foi, após a discussão com o pai. Agora, Priscila tinha que admitir, ela só não voltara porque sabia que as férias de Nick estavam próximas e que ele as passaria em Twin Rivers.
"Ele estava certo", pensou Prih. Aquele episódio a tinha mar­cado profundamente. Mas era natural que se lembrasse dele porque se sentira culpada. Nada mais.
Agora, certa de que Nick não a queria em Twin Rivers por ameaçar a segurança dele na empresa, iria explorar aquele ponto fraco de sua armadura. Mas ele não teria também descoberto sua fraqueza?

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