Capítulo I
O céu estava carregado de nuvens cinzentas que prometiam trazer neve antes do nascer do sol. O vento soprava forte, balançando os galhos das árvores, e um redemoinho levava para longe as folhas secas. Mas Priscila, absorta em seus próprios pensamentos, caminhava sem prestar nenhuma atenção àquele cenário de pleno inverno. As mãos enluvadas estavam enfiadas nos bolsos do casaco, e um gorro de lã protegia-lhe a cabeça.
Chutou uma pedrinha na água e ficou observando os desenhos concêntricos que se sucediam. Ao passar por um arbusto, um pato selvagem voou assustado dali para o lago, onde mergulhou desajeitadamente.
Caminhar à beira do lago e olhar os patos não era, de forma alguma, o melhor passatempo para uma manhã de dezembro. Mas pareceu a Priscila muito melhor do que ficar sentada na sala de espera do hospital, aguardando a hora de ver seu pai. E, além disso, depois de ter dirigido durante mais de oito horas, sentar-se, mesmo que por pouco tempo, estava entre as últimas coisas que gostaria de fazer.
Era ainda noite quando chegou à cidade e foi direto ao hospital. Porém, devido ao estado grave de saúde em que o pai se encontrava, só lhe permitiam visitas em horários prefixados. Insistiu com as enfermeiras para vê-lo imediatamente, mas não lhe abriram exceção. Como último recurso, havia procurado a enfermeira-chefe, que entretanto manteve a mesma orientação das anteriores:
— Sinto muito, Srta. Stanford, mas as normas do hospital são feitas para o bem dos pacientes. Até mesmo sua mãe tem obedecido aos horários das visitas.
— Suponho que a senhora esteja se referindo à minha madrasta — corrigira-a Priscila.
— Refiro-me a Sra. Stanford... . E quanto à senhorita, pode voltar às sete horas. Não antes disso.
Diante da inflexibilidade da enfermeira, tivera que se conformar.
E agora ali estava ela, no parque da cidade, ansiosa para que o tempo passasse o mais rapidamente possível.
— Quer alguns pedaços de pão?
A pergunta inesperada assustou-a; não havia imaginado encontrar alguém naquele local, àquela hora. Voltou-se para ver quem tinha falado.
Era um rapaz bastante simpático, com alguns flocos de neve sobre os cabelos loiros.
— É para os patos — acrescentou ele.
Prih enfiou a mão no pacote que o jovem lhe estendia e, atirando migalhas à água, falou:
— Obrigada. Há muito tempo não faço isso. Me faz lembrar da minha infância, meu pai...
— Dentro de pouco tempo não teremos mais este prazer. O lago se congelará e os patos irão embora para não morrer com o frio. Na realidade, temos que agradecer-lhes por ainda estarem aqui.
— É verdade, mas eles não têm outra saída. Às vezes eu também gostaria de fugir. Emigrar como estes patos. Buscar calor, verde e beleza em outros mundos. — Sorriu, arrependida por haver divagado. — Oh! Desculpe-me. Normalmente não sou tão sentimental.
— Não se preocupe. Faz de conta que não vi, nem ouvi nada. Você é nova por aqui, não?
— Não exatamente. Nasci aqui, mas faz cinco anos que não venho a Twin Rivers.
Enquanto falava, a cena da última discussão com o pai voltou-lhe à mente. Preocupada, Priscila imaginou o que faria se naquele momento ele estivesse morrendo no hospital. Mas afastou a idéia, horrorizada.
— Você vai ficar aqui por muito tempo?
— Só alguns dias — respondeu.
Havia previsto ficar apenas o tempo suficiente para se certificar de que o pai estivesse fora de perigo, nada mais que isso.
— Você não escolheu uma época muito agradável para essa visita!
Prih sorriu.
— Eu gosto do inverno. Sinto-me bem com o frio.
— Então teve sorte, porque aqui é o lugar mais frio que já vi, principalmente em fevereiro.
— Não consigo me lembrar de você. Não nasceu aqui, nasceu?
— Oh, ainda não me apresentei. Meu nome é Steve Whitman Sou do Arizona e pretendo voltar para lá algum dia. Estou trabalhando como assistente da diretoria da Twin Rivers Bakeries. É uma das maiores indústrias daqui.
— Essa não e a empresa que pertencia aos Stanford? Não sabia que tinha sido vendida.
— E não foi. Richard Stanford continua a controlá-la, embora uma nova diretoria tenha sido formada há pouco. Quando o novo diretor assumiu, decidiu mudar o nome da empresa, que passou a chamar-se Twin Rivers Bakeries, ao invés de Stanford Bakeries.
— Esse novo diretor chama-se Nickolas Gene Carter?
— Sim. Você conhece Nick?
— Se o conheço? Ele vem tentando tornar-se dono das indústrias Stanford durante os últimos dez anos. . .
Repentinamente um cão surgiu correndo por trás de Priscila e, rosnando furioso, jogou-a contra um banco. Tudo aconteceu numa fração de segundo.
— Você está bem? Consegue levantar-se? — perguntou Steve, preocupado.
Priscila, sacudindo a cabeça para pôr as idéias em ordem e tentar entender o que tinha acontecido, perguntou:
— O que foi isso?
— Este cachorro estúpido! — E arrastou o animal pela coleira. — Se ele tivesse vindo com mais ímpeto, teria jogado você não sobre o banco, mas dentro do lago!
Steve voltou-se para o homem loiro que acompanhava o cão: era Nick Carter.
— Eu já lhe havia dito que mataria esse cachorro se o visse atacando alguém de novo! Agora, ele quase jogou a moça dentro do lago. . .
— Steve, você sabe que Finnegan jamais ataca alguém de propósito — respondeu ele, abaixando-se ao lado de Priscila e agradando o cão, que, como para se desculpar, lambia o calcanhar dela e balançava o rabo longo e peludo.
— Bem, morena, eu sabia que um dia a veria tombada sobre um banco...
— E você coloca toda a culpa em mim, não? Sim, tem razão, ponha a culpa em mim. . . Isso é do seu feitio, Nickolas Carter. De fato, fui eu que mandei esse cachorro pular em mim mesma!
— Você não quer acrescentar mais alguma coisa sobre meu baixo caráter e instinto animal, como sempre fazia?
— Não exatamente. Mas sobre esse animal endiabrado, sim... . Ele é seu, não?
— Claro que é! Finnegan não é lá muito inteligente, mas é uma ótima companhia quando não está caçando coelhos ou jogando pessoas no chão. — Nick respondeu com um tom de sarcasmo na voz, e o cão, como se tivesse percebido a intenção do dono, abanou com maior intensidade o rabo, roçando-o nas pernas de Prih.
Enfurecida, ela se dirigiu ao cão:
— Não pense que estou gostando, seu danado! Sabe o que penso? Você é um imbecil de quatro patas e a culpa é desse seu dono que não sabe educá-lo!
Nick irônico interveio:
— Falando assim, ele até vai pensar que você é do tipo de gente que respeita os animais e suas limitações...
— Você está sendo desagradável de propósito ou a grosseria é agora um traço de seu caráter, Nick Carter? — continuou ela asperamente. — Onde está aquele seu cavalheirismo?
Os olhos dele brilharam de leve e a voz adquiriu um tom insinuante.
— Quer mesmo saber, morena?
— Não me chame assim.
— Por que não? Por acaso você mudou a cor dos seus cabelos?
Enquanto falava, puxou o gorro da cabeça de Prih, deixando à vista os longos cabelos castanhos. E dirigindo-se a Steve perguntou:
— E vocês dois, acaso já se conheciam? Steve tome cuidado. Embora engane muito bem, moreninha não é, de maneira alguma, uma Lady.
Steve, que não estava entendendo nada daquela conversa agressiva entre os dois, resolveu arriscar:
— Ela é sua irmã?
— Só ADOTIVA — corrigiu Nick, frisando bem as palavras.
— Muito obrigada — disse Prih com ironia. — Assim você me poupa o vexame de alguém supor que entre nós haja algum laço de sangue!
— Foi mesmo uma péssima idéia que nossos pais tiveram de se casar pela segunda vez na idade deles, nos obrigando a nos adotarmos como irmãos!
— Ora, não me parece que para você tenha sido assim tão ruim!Pelo que sei você está se saindo muito bem. . .
Nick percebeu de imediato a insinuação de Priscila: ele só teria chegado a diretor da empresa porque sua mãe havia feito aquele casamento, caso contrário, não passaria, jamais, de um empregado qualquer.
— Você gosta de provocação não, morena? — E, sem esperar resposta, virou-se para Steve, decidido: — Acompanharei Priscila ao hospital. Enquanto isso, Steve, tome as providências necessárias para o andamento do serviço no dia de hoje. Imagino que tenha vindo ver seu pai, não, morena? Ou veio apenas para os funerais?
— Como tem coragem de dizer isso, Nick? Meu pai está muito mal numa UTI, e você vem fazer brincadeiras de mau gosto?
— Mas foi muito conveniente para você esquecê-lo durante os últimos cinco anos, não?
Despediu-se de Steve que, após um olhar zangado para seu chefe, dirigiu-se a Priscila:
— Srta. Até quando pretende ficar na cidade?
— Ainda não sei... Nick interrompeu:
— Sem dúvida, até Richard estar melhor, ou ser enterrado.
Seguiram caminhando lado a lado, acompanhados pelo cão. Prih esperou até que Steve não pudesse mais ouvi-los.
— Você tem sempre que discutir nossos problemas diante de estranhos, não?
— Não pensei que você se incomodasse com isso. . .
— E quanto à minha permanência ou não aqui, Nick, isso só diz respeito a mim. A ninguém mais, você compreende? Ficarei o tempo que bem desejar. . .
— Você está sendo muito precipitada ao interpretar meus motivos, morena. . .
— Meu nome não é morena, Nick. Isso é coisa do passado.
— Desculpe, é à força do hábito! Veja Priscila, eu, pessoalmente, acho que mamãe jamais deveria tê-la chamado e. ...
— Por quê? Para que eu não viesse reclamar a herança que você sempre desejou que fosse toda sua?
— Ah, então foi por isso que você veio! Queria saber se sua parte estava salva...
Prih, irritada, enfiou as mãos nos bolsos, para não esbofeteá-lo...
— Absolutamente! A herança não me interessa. Não se esqueça de que estou de relações cortadas com meu pai. . .
— Não acredito. Voltou tão logo viu a oportunidade de colocar as mãos no dinheiro. . .
— Pois saiba que penso a mesma coisa sobre sua permanência aqui... Armou um esquema perfeito: abandonou sua carreira de químico, e, todo cheio de bons sentimentos, resolveu ajudá-lo na fábrica de doces... Comovente!
— Engana-se, pequena Prih! Só deixei minha carreira porque, após o primeiro ataque do coração, seu pai não estava mais em condições de continuar dirigindo pessoalmente a produção...
— Primeiro ataque? Então ele já teve outros? — Ela se desconcertou, sentindo um calafrio.
— Calma Prih. Não precisa se apavorar. Ele teve um ataque mais fraco, se é que se pode dizer assim. . .
Já estavam diante do hospital, e Prih não conseguia esconder a ansiedade que a dominava.
— Há mais alguma coisa que eu deva saber sobre a saúde de papai?
— Não. Mamãe o avisou de que você estava vindo. Não vai ser um grande choque para ele.
— Você não acha que minha presença pode até ser um acontecimento agradável?
— Talvez seja. Mas nem todos os eventos agradáveis são bons para os doentes do coração. Lembre-se disso, morena. Nenhuma cena, certo? — E, afastando-se com seu inseparável cão, avisou: — O jantar é às sete horas.
— E quem lhe disse que devo me subordinar aos seus horários?
— Nesse caso, o jantar será servido à hora que você chegar e der as ordens. Até mais tarde!
— Não, se depender de mim!
Richard Stanford estava estendido naquela cama branca do hospital de lowa, com o rosto e os lábios azulados, lutando pela vida. Os tubos de soro fisiológico e de sangue gotejavam ininterruptamente em suas veias, tornando-o aos olhos de Priscila o mais indefeso e fraco dos homens. Seu estômago contraiu-se ante aquela visão.
"Como está velho!", pensou. "Deve estar perto dos sessenta anos!"
— Oi, papai! — disse ela gentilmente, procurando-lhe as mãos entre os lençóis.
— Prih! Sinto tê-la obrigado a fazer esta viagem! — Sua voz era pouco mais que um suspiro.
— Papai. . .
Prih sentia vontade de chorar, de dizer-lhe o quanto havia se preocupado durante aquela viagem, de desculpar-se por aqueles cinco anos de distância e, principalmente, de pedir-lhe que a abraçasse como o fazia quando ela era criança.
Mas reviu o rosto de Nick, quando lhe dizia: "Nada de cenas, Prih", e a coragem lhe faltou. Apenas apertou com força as mãos do pai entre as suas e se calou.
— Você veio para ficar, não, Prih? Agora sei que você é o melhor remédio que eu poderia ter!
— Isso depende de sua saúde, papai! Você sabe que não poderei ficar por muito tempo. Preciso voltar!
Ela não queria fazer promessas. Tinha medo de não conseguir cumpri-las.
— Apenas alguns dias? E se ficasse até o Natal? — perguntou ele, desapontado.
— Não sei papai. Até lá são duas semanas.
— Ah, sei. Arrumou um namorado e quer voltar o quanto antes?
— Nem que fosse uma dúzia de namorados.
Nesse instante lembrou-se do pedido de casamento que Brian lhe havia feito dias antes. Não lhe havia respondido, mas permanecer em Twin Rivers poderia dar-lhe oportunidade de refletir melhor sobre o assunto. E a ele também.
— É alguém especial, Prih? Vou gostar dele quando conhecê-lo? — perguntou Richard, a quem a expressão pensativa de Priscila não escapara.
Ela sorriu.
— Acho que sim, papai! Vocês se darão muito bem! — Mas não sabia ao certo por que dizia aquilo. Afinal, Brian era um jovem executivo de uma grande empresa, que só se interessava por pessoas que lhe pudessem trazer vantagens.
"Sim", Prih pensava, "duas semanas em Twin Rivers me ajudarão, a saber, se amo mesmo Brian ou se apenas estou habituada a tê-lo em minha vida".
O olhar ansioso de Richard, finalmente, a fez decidir-se.
— Sim, papai, acho que ficarei até o Natal. Não posso lhe prometer ainda, mas não se preocupe com isso, por favor!
— E seu trabalho, não haverá problemas?
— Não. Como propagandista. Não tenho horários e dias fixos.
— E com quem está morando? Com...
Prih notou que o pai continuava sentindo dificuldade para mencionar o nome de Rosemary, sua mãe. Ela o abandonara, deixando-lhe a filha para criar. Isso, agora, já fazia mais de vinte anos, mas o tempo não conseguira apagar a mágoa de seu coração.
— Não, papai. Tenho meu próprio apartamento, que divido com algumas colegas de faculdade.
Nisto, uma enfermeira apareceu.
— Srta. Stanford, seus dez minutos terminaram. Richard segurou-lhe as mãos com força.
— Não vá, Prih. Tenho medo de não vê-la outra vez!
— Não posso ficar mais papai. Mas voltarei logo que deixarem. — E retirou-se da sala.
Ao passar pela mesa da enfermeira-chefe, Prih pediu informações sobre o real estado de saúde do pai, e esta a tranqüilizou dizendo que, dentro de poucos dias, se continuasse a se restabelecer tão bem, já poderia ser transferido para um quarto normal.
— Posso aguardar na sala de espera para falar com o médico? — quis saber Priscila.
— Claro!
Enquanto aguardava, Prih se lembrou da chamada de Margaret na noite anterior. Ela parecera desesperada com a doença de Richard e queria realmente sua presença em Twin Rivers. E quanto a Nick? Ele estava contrariado com sua volta, mas por que, se ele já tinha conseguido o que queria: o controle do império Stanford? Priscila não conseguia entender. Houve um tempo em que ele não era assim tão hostil com ela. Aliás, na última vez em que se viram, antes de sua partida, Nick até a...
Sacudiu a cabeça, tentando expulsá-lo do pensamento. Afinal, ele não era assim tão importante, não fazia nem mesmo parte da família. Mas as lembranças acabaram por dominá-la.
Viu-se aos doze anos, menina mimada a quem o pai se dedicava com abnegação. Lembrou-se de Nick, que já tinha dezessete anos, e do casamento de seus pais. Foi uma época feliz, em que tanto ela quanto Nick tinham os mesmos interesses. Ele a ensinara a esquiar, a dançar e sempre saíam juntos. Mas, alguns anos depois, inexplicavelmente se distanciaram e as constantes discussões em que se empenhavam tornaram-se a única forma de proximidade de que eram capazes. Havia um permanente clima de desconfiança recíproca; Prih começara a supor que o objetivo de Nick era tornar-se o herdeiro de todos os bens de seu pai. E foi numa discussão a esse respeito que se viram pela última vez, há cinco anos.
— Olá, Prih. Como vai? — Era o Dr. Grantham, o médico da família que tratara dela quando criança, e, agora, cuidava de seu pai.
— Bem, doutor, e o senhor?
— Na mesma vida de sempre... — respondeu, sentando-se ao lado dela. — Mas você mudou muito! Está mais bonita, só que parece abatida. É por causa da preocupação com seu pai?
— Creio que sim. Como está ele, Dr. Grantham? Por favor, diga com franqueza.
— Não temos ainda os resultados dos exames, e sem eles não posso fazer uma previsão exata do tratamento necessário. Foi um ataque cardíaco, mas não conhecemos ainda o grau de comprometimento do organismo. Mesmo assim, ele está reagindo bem e poderá, talvez, voltar para casa dentro de duas semanas.
— E quanto ao futuro?
— Bem, durante todo o inverno deverá manter-se em absoluto repouso. Suas ginásticas diárias não poderão ser interrompidas, já que é sério candidato a uma obstrução de artéria. — E completou, observando a expressão preocupada de Priscila: — Também não poderá voltar as suas atividades normais na empresa por um longo período, já que não pode se esforçar: foi por isso que nomeou Nick para substituí-lo. Ver Nick dirigindo a empresa a preocupa, não é, Priscila?
— Por que o senhor imagina isso? A empresa será sempre propriedade dos Stanford, mesmo com Nick na direção.
— É ainda é propriedade dos Stanford. — Fez um ar de preocupado. — Mas tenho certeza de que, se você estivesse aqui, Richard lhe teria dado a direção da firma.
— Eu amo meu pai, doutor. Mas estou certa de que ele não confiaria tanto assim em mim.
— Quanto a Nick, posso lhe garantir que ele não forçou nada. E acredito mesmo que Richard poderia ter sido convencido a deixá-la tentar, ao menos.
— Dr. Grantham, decididamente, eu nunca teria uma oportunidade. Más não é isso que interessa agora. Quero conversar sobre a saúde de meu pai.
— Muito bem. Você veio para ficar, não?
— Apenas por alguns dias. Eu disse a papai que ficaria até o Natal, mas acho que não poderei...
— Mas o que é isso, menina? Seu orgulho é mais importante para você que a vida de seu pai?
Prih contrariou-se.
— O senhor por acaso está tentando me responsabilizar por algo de ruim que aconteça?
— Ê claro que não! Você não teve culpa de ele ter tido um ataque do coração, mas sem dúvida provocou-lhe um grande desgosto quando foi embora. E agora vem e lhe dá a certeza de que o ama, de que ainda é a filha que ele adora. — Por fim deixou escapar a censura que ela temia: — Mas cinco anos sem uma palavra, Prih. . . Você foi muito cruel!
— Ele também não me procurou uma única vez — defendeu-se ela, com a voz meio abafada. — E como posso acreditar que ele se preocupava comigo? Afinal, todo mundo sabia que eu estava com minha mãe!
— Era exatamente isso o que mais o atormentava — disse ele num tom de voz seco.
— O senhor não gosta dela, não é doutor?
— Não — ele concordou ríspido. — Penso que essa antipatia tem algo a ver com o fato de que ela só admitia ver você depois que tivesse tomado banho e sido trocada. Mesmo nos seus primeiros dias de vida. . .
Priscila defendeu a mãe:
— Ela tem suas manias. . .
— Manias? Você acha certo. uma mulher abandonar o marido e uma filha de dois anos? Acha? — E abrandando a voz: — Oh, Prih, eu não quero discutir sobre Rosemary. Mas o que é mais importante para você que seu pai? Seu trabalho?
Sem saber o que dizer, ela balançou a cabeça.
— Então você vai ficar?
— Eu não posso...
— Mas precisa. Você é o melhor remédio para ele. É o que ele tem de mais querido, Prih!
— Não é verdade. Ele tem Margaret e Nick. Cuidaram muito bem dele nesses cinco anos!
— É verdade. Mas você é o sangue dele e ele a ama mais que a qualquer outra pessoa. E quanto a Margaret, Richard jamais teria se casado com ela se não estivesse certo de que ela seria uma ótima mãe para você!
— Eu poderia muito bem passar sem ela...
— Poderia mesmo? Tem certeza? — E mudou de assunto. — E seu pai? Vai pensar bem sobre o que lhe disse? Ficará aqui pelo menos até que ele esteja fora de qualquer perigo?
— Sim... Eu...
— Boa garota — disse ele, sorrindo.
— Eu não quis dizer que ficaria doutor. Apenas que pensaria em tudo o que conversamos. . .
O médico, que já havia se levantado, parou bruscamente e voltou-se para Prih.
— Priscila Stanford, se você for tão maldosa a ponto de dar esse desgosto ao homem que a ama mais que ninguém, então não é digna de usar o nome que tem! — E saiu pisando forte, sem se voltar.
Ela permaneceu imóvel por muito tempo, tentando colocar as idéias em ordem.
— Srta. Ashley, seu pai quer vê-la — ouviu a enfermeira chamar.
Prih ainda se deixou ficar pensando nas palavras do médico por mais alguns momentos. Depois se levantou sem pressa e seguiu a enfermeira em direção à Unidade de Terapia Intensiva.
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